18 abril, 2007

Opinião sobre o garoto do massacre da Universidade Técnica da Virgínia

Eu sinto pena do garoto, assim como da sociedade americana. Como toda sociedade humana, a sociedade americana produz excluídos, apesar desses excluídos terem eles também absorvido a cultura americana. No Mr. McBeef (uma das peças de teatro escritas pelo garoto), é claramente visível o jeito americano de ser e levar as coisas ao exagero. Apesar de ter muitos pontos desconexos, ele mostra que estava entrosado e participava (da forma dele) da cultura americana. Só que na verdade ele era exlcuido, ou se excluia dessa comunidade que possuia essa cultura. De qualquer forma, era um ciclo auto-alimentado, quanto mais ele se excluia, mais os outros excluiam ele. Acho que o "vocês" a que ele se refere deve ser a sociedade americana, ou pelo menos, a comunidade a que ele estava inserido.
Trágico, e como ele mesmo indicou, não estava feliz por fazer tal atrocidade. Não digo que ele era um débil mental, mas que ele precisava de muito apoio e ajuda, tanto de pais como professores e "colegas", e isso é indiscutivel. Mas ele era só mais um num mar de indíviduos, que poderia ser ignorado. E o ignorado chamou a atenção dos outros da pior forma possível.

25 janeiro, 2006

Da revolta na França às jovens grávidas no Brasil

Ainda bem que o mundo avança malgrado o que dele dizem humanistas, pensadores, mídia, toda essa teia de gente bem intencionada que pretende só um futuro melhor para nós todos, mesmo que seja flertando com o crime ou a irresponsabilidade. Fico feliz que homens reacionários e perversos, alheios a essa verdadeira torrente de lágrimas que inunda as causas, empurrem a civilização. Ou estaríamos todos danados. Não tenham dúvida: deixássemos os países para ser governados por esses humanistas por uns seis meses, eles implementariam uma ordem fascista. Eliminariam a democracia em três tempos. Ainda estou meio enigmático, sei disso. Mas vou me explicando, fiquem certos.

Primeiro tempo: a França
O jovem repórter penetrou na zona do perigo na França. Foi ver como vivem os imigrantes e filhos de imigrantes em Clichy-sus-Bois, uma das áreas rebeladas. O garoto que liderava aquela gangue em particular era filho de um imigrante de Gana. Ele mesmo é francês. Mas chama “franceses” os seus “inimigos”. Não se informou ao telespectador com o devido cuidado que eles têm casa de graça, escola de graça e hospital de graça. Os desempregados têm direito à assistência social e estão muito longe de ter um padrão de vida que lembre, ligeiramente que seja, os pobres do Brasil ou, anotem aí, os pobres dos Estados Unidos.

A França é um dos países europeus mais generosos no trato com os imigrantes e na concessão de benefícios sociais. Tanto é assim que, como reação, existe uma forte extrema direita que combate ferozmente tais concessões, que custam caro — entenda-se este “forte”: na faixa dos 20% do eleitorado. Sempre esteve longe do poder. Quem sabe a “intifada” colabore para que chegue mais perto nas próximas eleições... Será a grande “contribuição” dos arruaceiros à democracia francesa.

O repórter não quis saber de contradições, não. Milhões de espectadores brasileiros foram expostos às verdades daqueles “pobres garotos”, alguns deles saídos de um carro em ótimo estado. Todos visivelmente bem alimentados e educados. O prédio que receberam de graça para morar estava meio emporcalhado, é verdade. Eles reclamavam que o governo não ia lá fazer reformas. Por conta própria, aquela “pobre gente” não quer passar nem uma miserável mão de tinta na parede. Eles querem pichar. O governo que limpe. E o repórter lhes dá voz e dá a entender que a República francesa está em perigo. Que a integração é uma mentira, uma falácia. Os “líderes” da revolta só falaram porque não era uma TV nacional, que eles acusam de manipular o noticiário. Quando o jornalista se identificou como brasileiro, sentiram-se com gente amiga. Foram bem-sucedidos no seu intento.

Não se disse — aliás, não se disse em lugar nenhum do mundo, nem na França — quanto é que essa gente custa à Assistência Social e quanto os benefícios de que gozam consomem de imposto. Também ninguém está interessado em estimar os prejuízos de quase 20 dias de rebelião. Pra quê? A reportagem é toda ela simpática à causa. Numa máquina de lavar, lia-se a “homenagem” a Nicolas Sarkozy, o ministro do Interior: “fdp”. A sigla serve em francês e em português. O jornalista lembrou que o ministro detestado pelos baderneiros é ele próprio filho de imigrantes. A ilação óbvia é que se comportava como um traidor da causa. Em vez de candidato à Presidência, entende-se, Sarkozy deveria estar botando fogo em automóveis. Nem uma miserável palavra sobre o fato de a maioria dos rebelados, não aqueles, ser adepta do islamismo.

Da forma como foram tratados, não resta outro corolário: os pobres, os discriminados (ou os que se julgam pobres ou discriminados), se saírem botando fogo no país (ora, por que não o fazer também no Brasil, com mais “motivos”?), estarão apenas reivindicando justiça e respondendo à opressão. Até agora não se quis saber a real participação de filhos de imigrantes no establishment francês. Aposto meu braço direito que há mais pessoas oriundas desses grupos em posições de comando do que filho de camponeses. Mas e daí? Gostamos de rebelião, gostamos de revolta, gostamos que cada um tome à força aquilo que julga lhe fazer falta. João Pedro Stedile tem de fazer um curso com os líderes da intifada magrebina. Vamos ver como reage a “progressista” imprensa nativa. O “reacionário” aqui, como sabem, já disse o que pensa sobre tais métodos de “luta”.

Segundo tempo: as jovens grávidas
Depois surgiu o doutor. O homem é um fenômeno de mídia e muito bom naquilo que faz. Mas está se tornando, também, perigosamente, um pensador, um guia moral. Mais do que isso, um verdadeiro moralista. E corre um bom risco de estar indo além das suas sandálias.

A série tem um lado interessante, que remete à incúria do poder público. A distribuição gratuita de anticoncepcionais, uma das diretrizes do Ministério da Saúde, não está se dando a contento. Muito ao contrário. As pílulas não chegam às áreas mais pobres do país. Não estou necessariamente endossando que o Estado distribua o remédio. Se é uma política oficial, no entanto, que seja, então, cumprida. Até aí, vá lá.

Mas depois vêm os dramas humanos, individuais, que exemplificam e justificam a causa, a teoria. Aparece lá a garota de 19 anos. Pobre, sim, mas, vê-se, não abestada. Está na terceira gravidez. Cada filho de um pai diferente. Sua irresponsabilidade sexual, sua moral lassa no que concerne à sexualidade, sua decisão de praticar o ato que ela sabe que leva à gravidez, tudo isso é atribuído à sua pobreza — pobres talvez tenham hormônios mais inquietos... — e à falência das políticas públicas de combate à reprodução irresponsável.

Mesmo erro
Não sei se percebem: há um mesmo erro — politicamente correto, é claro — que torna a escória incendiária da França e as grávidas irresponsáveis do Brasil “vítimas do sistema”. Aqueles dizem que querem ser “ouvidos”. Com que pauta? Ninguém sabe. Reclamam do desemprego. Mas suas lideranças reivindicam também o direito de viver a sua “própria cultura” em oposição aos “franceses”. Ao universalismo da República, opõem o seu comunitarismo como um ato de resistência. No índice de 40% de seus desempregados, estão as mulheres, que não podem botar o nariz fora da porta, trabalhar fora tampouco, ainda que quisessem e houvesse emprego. Querem islamismo com ar refrigerado pago pelo Estado.

No Brasil, fazer sexo de forma irresponsável tornou-se um “direito”, pelo qual não deve responder quem se deita com o outro e, como direi?, põe “aquilo naquilo”. Não, nada disso! É uma necessidade, uma imposição da natureza — e sei lá o que mais —, e o Estado é que tem de arcar com as conseqüências, fornecendo camisinha e pílula de graça. Como este Estado tem-se mostrado incompetente na sua ação, a gravidez indesejada só pode ser, ora essa!, culpa do governo! Mesmo quando, aos 19 anos, a mocinha constata a sua terceira (!) gravidez. Como na piada do Casseta & Planeta, chegará o dia em que a mulher ou o marido encontrará o parceiro na cama com outra pessoa e vai exclamar: “E o governo não toma providência!”.

Nos dois casos, os humanistas de plantão expropriam os indivíduos de sua responsabilidade pessoal. Os incendiários da França não têm culpa de sair destruindo o país que lhes dá, sem custos, moradia, saúde e educação. Os brasileirinhos e brasileirinhas que saem por aí fazendo filhos também não podem responder por seus, quem sabe?, instintos. Podem até votar. Podem decidir sobre os destinos da nação. Mas não podem responder pelo momento em que tiram a calça.

Não se tocou uma miserável vez na moral individual dos praticantes de sexo e fazedores de filho. Atenção: não estou pedindo o fim da distribuição de camisinhas. Que se distribuam. Não estou pedindo o fim da distribuição de pílulas. Que se distribuam. Pessoalmente, sou contra. Mas esse é outro problema. Que o governo siga a lei. Que o Estado leve a sério a sua política. Não haverá, no entanto, menos gravidez indesejada no Brasil ou em qualquer outro lugar do mundo até que os indivíduos não sejam chamados à sua responsabilidade. De que outras franquias da cidadania deveria estar desprovido um indivíduo que não pode nem mesmo fazer sexo sem que o Estado zele pelas conseqüências? Mais um pouco, vamos ter de criar a “Orgasmobrás”. Tenho algumas sugestões para o cargo...

Eu, o reacionário
Claro, escrevo essas coisas porque sou reacionário. Os outros justificam incendiários na França ou expropriam indivíduos de sua responsabilidade até na hora de gozar porque são progressistas. Disso eu já sabia. Realmente, é detestável que eu suponha que uma pessoa de 19 anos, a caminho da terceira gravidez, seja, afinal de contas, dotada de alguma moralidade também — ou amoralidade, que seja. Como alguém pode ter tão perverso como sou?

Tanto é que o programa mostrou um caso exemplar. Um casal — ela, 19; ele, 18 — que pratica sexo regularmente, com o consentimento dos pais, claro (gente moderna e rica!), e a devida assistência médica. Mal se percebe a armadilha: a nova moralidade que se tenta vender está de tal sorte atrelada aos sinais explícitos de uma classe social, que, parece-me, o que era para ser exemplo acaba saindo pelo avesso. Sem aquelas condições que cercam o casalzinho bacana, parece que se está reivindicando apenas mais eficiência na esterilização dos pobres.

Sem contar, obviamente, que, tanto no caso da jovem mãe a caminho do terceiro filho, de três pais diferentes, como no do casal-bacana-e-informado, há um valor subjacente: a prática do sexo, além de ser entendida como uma espécie de direito público a ser regulado pelo Estado, é evidenciada como uma quase obrigação, um ato corriqueiro que independe de valores individuais, familiares, comunitários, religiosos, culturais.

Meu tédio
Já tinha esgotado a minha cota profissional do dia. Aí fui tentar descansar assistindo a um programa de televisão excepcionalmente feito por gente que tem miolos, alguns são meus amigos. Mas também há que os que não têm nada entre as orelhas. O sujeito resolveu que Bush é culpado de todas as porra-louquices protagonizadas por Hugo Chávez. Desisti.

A televisão foi tomada de assalto pelas pessoas boas. E eu descobri que não sou um homem bom, já disse isso a vocês. Eles já são maioria. Nós, os “franceses”, estamos acuados.


Por Reinaldo Azevedo

18 janeiro, 2006

Novo rumo de minhas idéias perdidas

Fazia um bom tempo não escrevia mais nada. Aquele impulso primitivo de escrever se foi, a vontade de conhecer também. Chegou uma hora que simplesmente cansei de perguntar, e passei a apenas observar (ou nem isso mais). Não vou mudar o mundo, e nem a cabeça das pessoas. Vou mesmo é aproveitar a vida, e rir da idiotice das pessoas e da minha própria. Mark Twain que o diga, ele própria tinha um conjunto de dicas úteis para você levar uma vida fútil numa sociedade moderna. Transcrevo aqui uma de suas centenas de maravilhosas frases:
"Respeitem seus superiores, se os tiverem. Respeitem também os estranhos e, às vezes, os outros. Se uma pessoa lhe ofender e você ficar em dúvida se foi proposital ou não, não tome atitudes radicais, basta esperar uma oportunidade e acertar um tijolo nele. Isso basta. Se descobrir que a pessoa não tinha intenção de ofender, seja sincero e confesse que agiu errado ao atingi-lo com o tijolo; reconheça isso como homem e diga que foi sem querer. Sim, evite sempre a violência, estamos em tempo de caridade e gentileza, tais coisas já não têm mais lugar. Deixem o uso da dinamite para os seres inferiores e grosseiros."
Eu pretendo passar mais tempo escrevendo no meu Blog, e isso é mais uma de minhas elucidações de ano novo. Não sei se vou cumprir, mas podem me cobrar.

10 novembro, 2005

Afinal, era azul ou não?

Era uma linda tarde de novembro. Eu e mais dois amigos combinamos de fazer o desjejum num restaurante do Shopping. Porém, eu precisava passar na lavanderia primeiro. Eu moro na moradia da Universidade que fica numa avenida que durante o dia é extremamente tranqüila. Subindo um pouco a avenida, têm uns bares, uma lavanderia, uma oficina mecânica e só, além de alguns edifícios e casas. A lavanderia fica ao lado do bar da esquina, e o bar da esquina é ao lado da moradia, dividido apenas por uma rua vicinal.
Parei o carro na esquina, como sempre costumo fazer quando tenho que ir na lavanderia antes de ir a outro lugar. No outro lado da avenida tinha uma delegacia móvel (daquelas que ficam em dia de jogo no Mineirão). Eles estavam ali fazia o dia inteiro, e deviam estar extremamente entediados. Tão entediados, que resolveram conferir a placa do carro que havia acabado de parar na esquina. E perceberam que a cor do carro não batia tão bem quanto estava na descrição. No papel estava escrito azul, quando na verdade era um azul meio fosco, e para os olhos dos policiais era prata. Assim que se percebeu a discrepância, iniciou-se rapidamente uma tática militar de interceptação e possível aniquilação dos alvos.
Enquanto isso eu já me encontrava na lavanderia, e no carro meus dois amigos conversavam sobre a atuação da polícia, que às vezes abusava de seu poder. E um dos meus amigos chegou a defendê-los com este argumento: “A maioria dos policiais são trabalhadores e honestos, e são somente alguns poucos que estragam”. Ao acabar esta frase teve-se inicio a interceptação policial.
Os policiais haviam sido treinados não havia nem três meses nos Estados Unidos em táticas anti-terroristas, e nada melhor que agora para colocarem o treinamento em prática. Ainda mais que se tinha dois meliantes dentro do carro altamente perigosos (sendo que um vestia a camisa do Atlético). Inicialmente um policial tomou a posição atrás de uma árvore, enquanto que outros dois foram para trás do muro da esquina (o carro estava estacionado na esquina, não se esqueçam, e o muro da esquina impedia a visão para além do alcance).
Após realizada toda a preparação, os policiais inciaram o ataque. Um dos policiais que estava atrás do muro iniciou a abordagem, enquanto que os outros davam a cobertura. O medo e a preocupação no rosto do policial que realizava a abordagem era visível. Ele se aproximava do carro lentamente, e atentava para cada gesto dos meninos, apontando sempre o revolver para a cabeça chata e imensa do cearense que estava no banco da frente, e gritando voz de comando para que saíssem do carro.
Prontamente o cearense obedeceu, mas o meliante que estava no banco de trás permaneceu dentro do carro. Isso claramente indicava uma possível preparação de contra-ataque, e os policiais começaram a ficar nervosos com essa demora, porém o cearense pediu que os policiais se acalmassem pois o banco era difícil para conseguir levantar. Uma vez cessado o primeiro encontro potencialmente perigoso, iniciou-se a revista. Os meliantes encostados no carro, foram revistados de cabo a rabo, literalmente. Sorte minha ainda não estar presente nos fatos decorridos.
Enquanto toda essa ação digna de um filme a lá Schwarzenegger ocorria, eu estava tranqüilamente entregando minhas roupas na lavanderia, e marcando o dia da entrega das mesmas. Roupas limpas e cheirosas, valem cada centavo, principalmente se não é eu quem lavo.
Já estava em processo de pagamento dos serviços quando me aparece o cabeça chata do cearense, extremamente nervoso e assustado, me dizendo que os policiais queriam os documentos do carro. Mal sabia eu de toda a ação adrenalizante que ocorrera antes. Calmamente me dirigi aos policiais, e pergunto o que eles queriam, enquanto atentamente observo ao meu redor os acontecimentos. Além é claro dos três policiais que já se encontravam no local, estavam a se dirigir mais uns cinco policiais como reforço (lembre-se, a delegacia é do lado, e creio que todos foram ver o showzinho). Mas a verdade crua e nua é que ficaram com medo de minha presença. Com certeza já viram muitos filmes de ação, e sabem como que é possível que apenas eu possa subjugar três policiais armados. Agora que tinha 8 policiais, as chances caiam para 50%, antes que eu pudesse levar um tiro, e 80% antes de levar três tiros no peito e permanecer respirando.
O policial baixinho, que visivelmente estava mais nervoso, começa falar, ao mesmo tempo em que destrava a arma do seu coldre: “Documentos do carro e de motorista, por favor”. Bom, pelo menos ele era educado. Sentei calmamente no banco, e comecei a procurar através do tato os documentos do carro que estavam no porta-luvas. Estava tão concentrado no momento, que nem me preocupei com o fato de os policiais poderem pensar que eu estava procurando uma arma, e que eu pudesse aparecer na manchete do jornal da alterosa ou no cidade alerta.
Entreguei os documentos ao policial, e fui ao porta-malas colocar a bolsa que eu havia usado para fazer o delivery das roupas. Um policial me escoltou até o porta-malas, e observou atentamente meus passos, enquanto realizava tal ato.
Logo após, começou a conversa dos policiais. Uma conversa quase de cunho filosófico, onde iniciamos um debate para saber se a cor do carro era azul, como estava na sua documentação, ou prata como afirmavam os policiais. Argumentei que era a primeira vez que tinham perguntado da cor. Contra argumentaram dizendo que sempre há uma primeira vez. A conversa aprofundou-se de tal maneira que quase estávamos a discutir se era realmente possível saber a verdadeira cor do carro. Se se dependia dos olhos do sujeito Detran ao marcar na documentação, no sujeito dono do carro que queria evitar uma multa, ou o sujeito policial que pretendia com seu olhar puxar uma graninha pro seu lado.
Após exaustivas discussões, sem contudo alcançar o patamar da verdade, decidimos que era preciso fazer algo pragmático: repintar o carro e remarcar a documentação. Utilizando assim métodos cientificamente comprovados de acepção de cores, poderíamos deixar o campo filosófico da gnosiologia ou a possibilidade do conhecimento para adentrarmos no conhecimento adquirido e convencionado por todos.
Eu escapei bem pouco de ter sido achacado pelos policiais. Sentia que meu dinheiro escorria de meus dedos quando o policial aferiu estas palavras: “Nós não queríamos criar nenhum problema, mas apenas estávamos fazendo nosso trabalho..”. Porém o momento áureo foi a frase:” Se seus amigos tivessem agido de uma maneira um pouco mais brusca, seu carro estaria todo perfurado de balas.” Ao que respondo com um simples levantar de sobrancelhas, como se dissesse: “ Nossa, você é valente mesmo, principalmente contra dois garotos desarmados”. Ainda bem que ninguém lê os pensamentos dos outros.
De qualquer maneira, queriam que eu pintasse meu carro de azul (uma cor muito feia, diga-se de passagem), mas eu finquei o pé no prata. Quando estávamos nos despedindo, observamos a cara de alguns policiais, que estavam até meio embaraçados com a situação. E depois fomos almoçar.

27 outubro, 2005

Por um Brasil mais racional

Como todos sabem, o escândalo do mensalão está começando a esquentar. A esquentar o forno pra produzir pizzas em massa, pois até agora estava saindo só umas aqui e acolá. Nosso querido presidente Lula, depois de afirmar no início do escândalo que iria cortar da própria carne, afirma agora que tudo não passou de acusações infundadas e de motivações políticas.

A eleição de Aldo Rebelo para presidente da câmara foi a mais sem escrúpulo já vista, com conchavos e negociatas a plena luz dos flashs dos repórteres. Só não foi pior do que a daquele cara que falou na TV: “Eu não tenho escrúpulos”. Lembra dele, todo mundo fez piadinha, e logo depois esqueceu. O nome dele é Rubens Ricupero, e hoje ele é diplomata, além de ter passado por alguns cargos importantes, como secretário-geral da UNCTAD.

Roberto Jefferson já foi segregado da vida política, e podemos dizer que o foi de uma forma até injusta, motivado principalmente por vingança. Meia-dúzia de deputados vai ser cassado e meia-dúzia já renunciou. O PT até ficou indignado que alguns de seus deputados não tenham renunciado. E o mensalão morrerá assim, de forma injusta para alguns, e incomoda para outros.

Você está indignado com toda esta situação, pergunto eu? Eu não, e nem boa parte da população, senão FHC não teria sido reeleito diante do escândalo de Ricupero e a popularidade do Lula não estaria aumentando de uns tempos pra cá.

Tudo isso que eu falei é normal, o brasileiro (que é um povo extremamente feliz, apesar de ser extremamente explorado) acha isso normal, se não mesmo até moral. É parte de nossa cultura, de nossa história, de nossa tradição. Está na hora de alguém levantar essa bandeira pela moralidade do Brasil, e deixarmos de ser tão hipócritas. Está na hora de legalizarmos a corrupção.

A primeira coisa a fazer seria legalizar o caixa dois. Os políticos ficariam tão felizes que até mesmo iriam dizer quanto arrecadaram pelo caixa dois (mas lógico que não diriam de quem). As coisas ficariam mais transparentes, não acha?

E o que dizer do mensalão? Esse então deveria ser institucionalizado. Seria uma boa maneira de se aplicar as parcerias público-privado. As pessoas pagariam para que o deputado votasse no que ela quer. As pessoas pobres também teriam vez, poderiam se juntar num grande mutirão, como num fundo de ações, e pagar os deputados. Institucionalizando o mensalão, você mata dois coelhos com uma cajadada só. Acaba com a corrupção ativa e a passiva.

O que dizer do nepotismo? Já passou o tempo de torná-lo lei. Algumas pessoas podem não querer colocar parentes por medo dessa falsa ética que proíbe essa prática, o que seria injusto uma vez que isso é uma prática corriqueira feita por todos. Ou todos podem ou todos não podem.

Os contratos superfaturados, que seria uma outra forma de parceria público-privado, deveriam também estar regulamentados pela lei. Vejam o raciocínio, uma vez institucionalizado o mensalão, os políticos precisam dos meios para pagar essa via democrática. E este é o melhor meio em que se conseguiria o dinheiro. E ainda tem uma vantagem, poderíamos impor limites. Só pode superfaturar 10% acima do valor real, sabendo que o valor real já está 20% acima do seu valor. Pagaria o mensalão dos deputados e as futuras (e caras) campanhas políticas, além de dívidas residuais.

Assim iríamos moralizar o Brasil, e o que é agora uma realidade ilógica e irracional se tornaria muito mais racional e mais fácil de viver. Não ficaríamos mais falsamente indignados com a situação, só porque a prática moral está contra a lei. A lei pode ter erros, e é na luta diária que conquistamos nossos direitos. Os brasileiros já legitimaram a corrupção e a falcatrua, isso já é uma prática diária nossa, está na hora de a legitimarmos definitivamente na forma de lei. Não desejo ter que ficar negando a minha razão toda vez que leio um jornal ou uma revista.

Faça sua parte, discuta este assunto, vamos colocar esse projeto no congresso, vamos moralizar o Brasil, vamos tornar a realidade brasileira muito mais racional.

07 outubro, 2005

Como já dizia o avô de Roberto Jefferson...

Como já dizia o avô de Roberto Jefferson (aquele mesmo do mensalão) : “Em notícia de muito destaque, pode saber que tem algo por trás dela”. É uma frase sábia de quem com certeza já deve ter criado as suas próprias notícias de destaque. Então resolvi ver o que poderia haver por trás do referendo, e cheguei a algumas teorias da conspiração que demonstrarei agora.

Os políticos são os primeiros a ganhar com isso. O foco da opinião pública está na questão de desarmar o Brasil, tendo como símbolo o referendo. E enquanto isso acontece, os políticos estão livres para não investir em justiça social, segurança pública e uma reforma da estrutura jurídica brasileira. Estas são questões de apavorar cachorro doido chupando manga.

Os criminosos são os segundos a ganhar, porém de uma forma indireta. Todos eles, do pequeno ao grande, ganham devido à imobilidade do Estado em querer agir contra eles. Essa morosidade do Estado faz mais sentido ainda se considerarmos que os políticos estão ligados ao crime organizado. O sistema de leis no Brasil foi criado especialmente para abrir brechas aos criminosos e corruptos (aqui me refiro aos casca-grossas e não aos ladrões de galinha). E esse referendo, apesar de não criar brechas, cria uma situação confortável.

Os únicos que penso poderem ganhar de forma direta seriam os contrabandistas de armas, devido a um aumento do “comércio ilegal”. Porém esse aumento não será algo grandioso como se pode pensar. Isso porque de uma forma efetiva o comércio legal de armas continuará a funcionar no Brasil, diferentemente do que muitos andam dizendo por aí e tantos outros andam acreditando. Transcrevo o artigo 35, que é o que aprovaremos ou não no dia 23 de outubro, para demonstrar isso a vocês:

“Art. 35. É proibida a comercialização de arma de fogo e munição em todo o território nacional, salvo para as entidades previstas no art. 6º desta Lei.”

Observem o termo “salvo”. Ali ele tem o significado de salvador da indústria de armas no Brasil. O grosso do comércio continuará funcionando e as quedas nas vendas serão pequenas. De acordo com Veja, o número de armas deixadas de vender por ano seriam em torno de 1250. Um número ínfimo, considerando os números que se passam nas propagandas do referendo.

As pessoas que estão fora do escopo do artigo 6 não conseguirão comprar armas, mas existe uma maneira muito fácil de burlá-lo. Basta entrar para um clube de tiro: Sócios de clube de tiro têm acesso a armas, algumas até de uso restrito. Portanto, aí está um terceiro segmento que tem a ganhar com o referendo.

O quarto segmento da sociedade seria a indústria de armas, aquela que todos acreditam ser a mais prejudicada. Ela ganha porque: primeiro, o foco contra a indústria de armas terá sido desviada, pois a população achará que criou uma “lei” (que na verdade é um artigo) que será efetiva e dura contra as armas; e segundo, poderá contar com um possível aumento das vendas com um aumento do “comércio” ilegal de armas.

Vejam bem, é um “possível” aumento. O comércio ilegal não é algo facilmente inquirido, e não sou Nostradamus para prever o futuro. Este aumento pode ser tão insignificante que talvez nem valha a pena falar ou poderá ser algo mais conciso, mas como foi dito não será algo grandioso. Eu creio que a maior influência que o referendo dará nesta questão será de fator psicológico: As pessoas comprarão somente porque acham que está proibido, e quando precisarem de uma arma, não pensarão duas vezes antes de comprá-la de forma ilegal.

E assim todos viverão felizes para sempre, até que a população comece a sentir na pele os possíveis efeitos negativos da própria “lei” que ela criou, ou então não sentir os efeitos que queria que tivesse. Mas aí são outros quinhentos...

06 outubro, 2005

Artigo 35 da LEI No 10.826, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2003

Art. 35. É proibida a comercialização de arma de fogo e munição em todo o território nacional, salvo para as entidades previstas no art. 6º desta Lei.

Para quem não sabe, este é o artigo que será aprovado ou não no dia 23 de outubro. Comecei a ler a lei em que está incluído este artigo e comecei a perceber a bagatela deste referendo. Quem pode ter o porte de arma, continuará comprando arma. Os portes estão no art. 6, exatamente quem escapa da proibição da compra de arma. Eu, como praticante de esporte com arma de fogo, continuo podendo ter o registro, porte e podendo comprar armas e munição. Agora, o artigo 35 vai afetar aqueles que somente estão regulamentados segundo o capitulo II, que trata do registro. Ou seja, o cidadão comum. Vejam bem, a lei dá o direito ao cidadão poder ter uma arma registrada, mas agora irá tirar os meios com que ele pode conseguir a arma. Isso não é meio contraditório? Ele pode ter uma arma, mas nãopode comprá-la. Esqueçam as pesquisas que falem algo sobre armas de fogo. Olhemos para a lei e raciocinemos. Podemos ter uma lei que em si já é contraditória? Observem que quem já tinha o registro, se puder renovar dentro dos conformes dessa lei, continuará com o registro da arma. Eu poderia interpretar o art. 35 como não válido porque tira os meios de eu conseguir o direito. Então, as pessoas podem entrar na justiça para poder burlar esse artigo, e acabar por fazê-lo perder sua eficácia. E todo aquele papo de sou da paz, que vamos desarmar o Brasil, terá sido (se já não é) em vão.

Vocês podem conferir e ler a lei por vocês mesmos em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.826.htm