O Prato e o Livro
Essas são histórias reais, com personagens reais, porém num mundo fictício. Aconteceu com os amigos de um amigo meu. A conclusão dos fatos deixo a cargo do leitor.
O relato de Prudêncio
Já era uma hora da manhã e finalmente tinha acabado meu trabalho de vinte páginas. Eu não tinha impressora, apenas meu computador. O meu vizinho de quarto, o Garrote, havia deixado a chave dele comigo para que eu pudesse usar a sua impressora. Nesse dia muita gente não tinha dormido em casa. Quem devia estar no apartamento eram só o Santista e o Esquizofrânio. Quando abro a porta e saio do quarto, ouço um barulho forte e abafado, como um baque de algo pesado caindo num chão macio, e logo em seguida uma barulhada de vidro, tudo isso vindo do quarto do Esquizifrânio. Achei estranho, mas tinha algo de mais importante a fazer.
Vou pro quarto do Garrote, ligo o computador dele e vejo que esqueci de compartilhar o arquivo do trabalho pela rede. A impressora também está sem papel. Volto ao meu quarto e pego o papel. Quando estou saindo, lembro que o arquivo não está compartilhado na rede. Fecho a porta, ponho o arquivo na rede, e volto ao quarto do Garrote. Faço uma última revisão e mando imprimir. A impressão demora, cada folha era quase um minuto. Então fico a noite toda indo e voltando do meu quarto pro quarto do garrote. Acaba a impressão e vou dormir.
O relato de Esquizofrânio
Estava numa praia paradisíaca, cheia de gatinhas de biquinininhos e de topless, todas molhadinhas de água salgada e rindo umas com as outras. Estava deitado numa espreguiçadeira só observando, e escolhendo qual eu iria atacar. Uma delas então se aproximou trazendo um prato. Observava atentamente cada passo dessa menina, cada curva de seu corpo. Cada vez ela chegava mais perto e mais fixo olhava para ela.
Num movimento brusco ela jogou o prato no meu rosto. De repente senti frio, não conseguia enxergar mais nada, meu corpo estava pesado, mas ainda sentia o prato em minha cara. Foi então que percebi que estava sonhando até o presente momento. Naturalmente tomei um susto e pus-me a pensar: “Como pode um prato ter saído do meu sonho e ido parar na minha cara?”. Percebendo a estranha situação, num só impulso joguei o prato no chão (para minha sorte tenho tapete e o prato não quebrou) e pulei da minha cama. Corri e acendi a luz. Tentei abrir a porta pra ver se pegava um dos filhos da p... que fizeram essa brincadeira, mas ela estava trancada.
O quarto estava normal, na bagunça de sempre. Um quartinho pequeno e quadrado, que cabe exatamente uma cama, ocupando um lado inteiro da parede, do lado oposto ao da porta. Ao lado da cama uma mesa de ardósia, acima da mesa ficava uma prateleira de madeira ao lado um armário, tudo fixado na parede. As roupas estavam espalhadas, os livros estavam na estante, exceto um livro que estava estranhamente no chão. E o prato, que deveria estar em cima da mesa, estava até a uns momentos antes na minha cara. Estava assustado, pensando: “O que havia acontecido? Fosse o que fosse, não deveria ser bom, estava brincando comigo”. Ouvi então barulhos de porta vindos da sala. Deviam ser meus amigos, pensei. Corri para a sala e vi que tudo estava escuro e muito quieto, e rapidamente acendi a luz. A sala era pequena, na verdade era uma sala/cozinha. O apartamento tinha seis quartos, três em cada lado. O barulho que havia escutado poderia ter vindo de qualquer um. Comecei a olhar de baixo das frestas procurando em vão alguma luz acesa.
Voltei para o quarto, ainda tremendo de medo. Comecei a imaginar várias coisas: demônios, capetas, fantasmas. Lembrei então do Gasparzinho. De vez em quando, coisas estranhas aconteciam no apartamento, coisas sumiam sem ninguém saber, coisas apareciam, coisas mudavam de lugar. Como ninguém assumia a culpa, recaia sempre sobre o Gasparzinho. Então isso também só podia ser obra do Gasparzinho, apesar de até então nunca ter acreditado nele.
Nesse meio tempo, ouvi novamente barulho de portas. Sai do quarto e corri para a sala, mas não acho nada. Nenhum barulho, tudo apagado. Voltei para o meu quarto e esperei por outro barulho nervosamente. Nessa altura, minha adrenalina estava a mil, eu não queria saber de mais nada, só pegar o meliante das portas. Assim que ouvi, corri para a sala e de novo encontro nada. Havia chegado então a uma conclusão: “Seja o que for não é desse mundo, nada poderia ser tão rápido”.
Voltei para o meu quarto, derrotado, medroso, temendo pela minha vida. Nesse momento percebi algo. O livro que estava no chão, deveria estar na prateleira, mais ou menos na mesma direção em que estava o prato. Tinha descoberto o mistério, o livro caira da prateleira e batido na beirada do prato. Por sua vez, o prato dera duas voltas no ar, eu presumo, e caído exatamente na minha cara. Mas as portas continuavam um mistério. E mesmo que o prato tivesse agora algum sentido, continuava muito estranha essa coincidência, e ainda mais o motivo para o livro ter caído. Com certeza o Gasper tinha mão nisso, ele devia ter armado tudo.
Já não tendo mais o que fazer, senão rezar pela minha alma, fui para a cama tentar dormir. Mas continuava ouvindo os barulhos das portas. Mandei o Gasper tomar no c.. e me encolhi no lençol o mais fundo que pude. Liguei a televisão para não pensar em mais nada, e tentar não ouvir também. A toda a hora me vinham as imagens do prato na minha cara e a sensação de poder ser puxado pela perna a qualquer momento. Minha imaginação estava a mil, via um demoniozinho passando pra lá e pra cá, e esperava ansioso pelo momento em que iam me atacar. Mesmo com a televisão ligada, continuava escutando barulhos de porta se abrindo e fechando. Depois de horas de horror, de uma eternidade sem fim, de suplícios ininterruptos à virgem, de tentativas esdrúxulas de me convencer que aquilo tudo não existia, é que finalmente entrei em colapso, e acabei dormindo por exaustão.
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